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LETRAMENTO RACIAL CRÍTICO: O QUE SE REQUER PARA (RE)APRENDER?
21 de fevereiro de 2024
LETRAMENTO RACIAL CRÍTICO: O QUE SE REQUER PARA (RE)APRENDER?

Em um mundo cada vez mais conectado e diverso, o letramento racial crítico é muito importante para a compreensão das identidades dos sujeitos como parte da sociedade. Mas o que se requer para (re)aprender? Esse termo vem do inglês, critical racial literacy, e se refere à habilidade de entender, discutir e transitar entre questões relacionadas a raça, etnia e preconceito de forma decolonial e crítica. Sendo assim, ele engloba tanto a consciência básica quanto ao que esses temas significam e sugerem, mas também uma compreensão mais profunda sobre seus contextos históricos, narrativas, leis vigentes e pesquisas. Por isso, o letramento racial crítico é fundamental para promover emancipação, empatia, inclusão e justiça social, além de fornecer conhecimento e incentivo para as pessoas enfrentarem o desafio sistêmico do racismo.

Ao iniciar a conversa sobre esse conceito, geralmente há uma exposição de histórias e narrativas. A partir deles, somos provocados a pensar criticamente com as experiências e desafios únicos enfrentados por indivíduos de diferentes etnias e raças ao longo da História e que não fomos educados a ouvir. Essa conscientização nos ajuda a “calçar o sapato do outro”, estimula a quebra de estereótipos e preconceitos e promove uma sociedade mais inclusiva e tolerante. Portanto, se nos mostrarmos dispostos a participar de discussões sobre raça e termos a mente aberta e respeitosa para o que elas envolvem, é possível construirmos pontes de entendimento, ao invés de seguirmos reforçando condutas discriminatórias.

Além disso, o letramento racial crítico é peça-chave para a exposição fundamentada do racismo sistêmico na sociedade. Ele permite que as pessoas reconheçam e entendam as raízes das desigualdades e injustiças raciais que permeiam nossas estruturas e se preparem para garantir a reparação e provocar mudanças. Como educadores, ao entendermos isso, somos capazes de nos preparar, internalizar e adaptar essas questões de modo que as crianças possam também refletir sobre elas desde cedo e cresçam para se tornarem pessoas que fazem uso positivo dessa percepção.

Outro ponto é que esse conceito pode também agregar um crescimento no âmbito pessoal de cada indivíduo ao encorajar a autorreflexão sobre privilégios, discriminação e preconceitos e o mito da falsa democracia racial. Enquanto percebe toda a complexidade do racismo, ele se torna mais culturalmente perspicaz e preparado para percorrer ambientes plurais, seja no âmbito da educação e da saúde, seja no mundo do trabalho e convívio familiar.

Acredita-se que uma criança não nasce preconceituosa ou racista, ela apenas reproduz, desde cedo, comportamentos, narrativas e expressões que presencia e escuta. Assim, muitas vezes, ela não se dá nem conta do que aquilo significa (conduta inconsciente) e que pode machucar outras pessoas de maneira irreparável. Desse modo, ao conversarmos com ela sobre o assunto, a criança pode se tornar mais observadora e pensar antes de agir. Também pode passar a corrigir atitudes racistas daqueles a sua volta. Consequentemente, ao se tornar consciente de que a cor de sua pele e seus privilégios não a fazem melhor do que outros, a criança desenvolve valores ligados à igualdade e ao respeito.

Por todos esses motivos, o letramento racial crítico se torna cada vez mais essencial. As discussões que ele traz são o ponto de partida para o mundo conseguir ser um lugar onde a diversidade é vista naturalmente e onde existam trocas positivas entre pessoas, possibilitando assim um empoderamento coletivo. Aplicar o letramento racial crítico desde cedo, já na educação infantil, é construir um legado de mudança efetiva.

Texto em colaboração com Glaucia Morais — Educadora antirracista e Mestre em Linguística pela UERJ, com expertise em educação plurilíngue em áreas conflagrada.

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